Sifriá – Resenha do livro “Caro Michele”

 

   Escrito por Natalia Ginzburg, Caro Michele (1973) lida com o impacto de questões políticas na vida privada das personagens. Concebido como uma troca de cartas entre Michele, seus amigos e familiares, pouco a pouco, a partir do contato com diferentes perspectivas sobre alguns dos mesmos eventos, começamos a formar uma ideia do contexto social em que essas relações estão inseridas. 

   Embora o romance não trate diretamente de temas judaicos, algumas das cenas evocadas tanto pelas poucas palavras de Michele, como pela tentativa das personagens em conseguir entender o que se passa com ele, aparentam refletir ainda que muito sutilmente   alguns daqueles mesmos elementos que informam a experiência judaica na Europa do século 20: perseguição, fuga, exílio, inconstância e reinvenção de si. 

   Nascida em Palermo, em 14 de julho de 1916, Natalia Ginzburg (née Levi) é filha de pai judeu de origem sefardi e mãe católica. Ela é autora do romance Léxico Familiar (1963), em que as suas lembranças de infância e juventude nos ajudam a formar uma ideia sobre as tensões políticas que definiram a vida dos judeus na Itália durante os anos que marcaram a ascensão do fascismo e a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Em 1944, o marido da escritora, Leone Ginzburg, natural de Odessa, foi preso, torturado e morto pelo regime fascista. Natalia Ginzburg é mãe do historiador Carlo Ginzburg, autor de O Queijo e Os Vermes (1976).

 

Juliana de Albuquerque – Doutora em filosofia e literatura alemã pela University College Cork e mestre em filosofia pela Universidade de Tel Aviv.

Esse registro foi postado em PT e marcado .