O Canto do Bruno – Amazônia – Para UJR
Em memória de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Pela elevação da nossa consciência do que se passa na Amazônia.
Rabino Uri Lam
“Vamos tentar fazer esse nigun indígena, do ativista desaparecido? Um abraço.” Assim começou uma conversa entre mim e Daniel Szafran, músico da minha sinagoga, o Templo Beth-El. Ele me enviou um instagram do Bruno sentado na mata, tranquilo e feliz. Na manga da camisa, úmida da floresta tropical, um emblema com a bandeira do Brasil. No entorno, sons da mata e vozes indígenas. Escutei muitas vezes. Era, definitivamente, um nigun indígena. Cantei para o Dani como um nigun.
Era um encontro sagrado entre tradições ancestrais: a indígena – o Povo Ticuna; e a judaica – o Povo do Ticun Olam.
[Uri]: “Aqui está o Brunisher Nigun ou Nigun da Floresta. O que acha?”
[Dani]: “Se pudesse fazer uma frase na língua indígena e misturar com alguma coisa nossa, ficaria uma homenagem linda.”
[Uri]: “Podemos colocar uma letra judaica que fale de natureza.”
[Dani]: “Brunisher Nigun, de Bruno né? L”
[Uri]: “Dani, veja o versículo Deut. 20:19 da Torá.”
Enviei outro áudio para o Dani, agora com as letras indígena e hebraica: para se unir com uma oração da floresta era preciso, do nosso lado, uma oração da Etz Chaim, da Árvore da Vida, a Torá.
Nigun do Bruno – Amazônia
Melodia e 1º verso: Povo Ticuna, da floresta amazônica, por Bruno Pereira z”l.
2º verso: Deut. 20:19.
Composição: Daniel Szafran, Rabino Uri Lam.
UAHANA RARAE, UAHANA RARAE,
MARINA UAKENADE, MARINA UAKENADEE.
LO TASHCHIT ET ETZA, LINDOACH ALAV GARZEN,
KI MIMENU TOCHEL, VEOTO LO TICHROT.
KI HAADAM, ETZ HASSADE,
HAADAM ETZ HASSADE, HAADAM ETZ HASSADE.
Não destrua suas árvores manejando o machado contra elas. Você pode comer delas, mas não as derrubar. Pois são as árvores do campo humanas
[para que consigam se retirar quando você sitiar a cidade?] (Deut. 20:19)
No Shabat, no Kadish dos Enlutados, incluí seus nomes. Justos do mundo.
Este nigun ficará para sempre. Talvez para ser cantado em Tu biShvat, Ano Novo das Árvores. Talvez anualmente a cada 17 de junho, em memória do dia em que foram encontrados mortos. Talvez nos acampamentos, como forma de conscientizar os jovens para o amor que devemos ter a todas as árvores da vida e seus guardiões.