Lag BaOmer 5781 – Português

O novo resplendor do 33º dia em 2021

A dominação do Império Romano na Judeia durante o primeiro século da Era Comum foi um dos capítulos mais terríveis da história do povo de Israel. A partir da destruição do Templo no ano 70 EC, os romanos enfrentaram uma série de revoltas esporádicas, em sua maioria mal organizadas e sem sucesso. No segundo século da Era Comum, o líder Bar Kochba iniciou uma série de revoltas organizadas e apoiadas espiritualmente por Rabi Akiva, um dos sábios mais reconhecidos no mundo judaico, e o povo de Israel vislumbrou uma breve luz de esperança de libertação ante a grande força opressora.

Nessa época, no período do Omer, porém, ocorreu um caso que converteria esses dias em um período de luto parcial: ocorreu uma pandemia, que nos lembra os dias que vivemos hoje, mas sem um sistema organizado de saúde, nem vacinas, nem máscaras, nem medicina moderna. O acontecimento durou trinta e dois dias e afetou tanto judeus quanto romanos. Essa “Covid” de antigamente ceifou as vidas de milhares de pessoas. Entre as fileiras de alunos de Rabi Akiva e os militantes, assim como na população geral, se calcula que morreram aproximadamente vinte e quatro mil pessoas. Se esses números não dizem nada por si só, talvez possamos captar a magnitude do desastre com um simples cálculo se considerarmos que, em média, morria uma pessoa a cada dois minutos. É por causa dessa trágica ocorrência, que caiu no período de quarenta e nove dias do Omer, que não se realizam casamentos nem grandes celebrações com música ou dança. Os mais religiosos ou tradicionalistas também não se barbeiam ou cortam o cabelo durante os primeiros trinta e dois dias. Em Israel, é também um período de mudança de estações entre a primavera e o verão, e é comum que o povo comece a sentir, gradualmente, os desesperadores dias de calor extremo.

Lag BaOmer significa em hebraico, literalmente, “o trigésimo terceiro (dia) do Omer”. Lag não é uma palavra por si própria, senão a representação numérica do valor das letras que a formam: Lamed – trinta, e Guimel – três, perfazendo um total de trinta e três. A tradição relata que, no trigésimo terceiro dia do Omer, essa terrível praga comentada anteriormente cessou, e não se teve mais mortes. Anos mais tarde, depois que cessou a praga e também em um Lag BaOmer, faleceu o grande rabino Shimon bar Yochai (Rashbi, pelas iniciais), discípulo justamente de Rabi Akiva. O Rashbi, assim como seu predecessor, foi veemente opositor político aos romanos, e apoiou espiritualmente a luta contra Roma. No Talmud, tratado Shabat 33b, se narra acerca da opinião do Rashbi sobre o governo romano:

“Estavam reunidos Rabi Yehuda, Rabi Yossei e Rabi Shimon… começou dizendo Rabi Yehuda: ‘Que agradáveis são as ações deste governo (romano): construíram mercados, construíram pontes, construíram banhos públicos’, Rabi Yossei se calou. Contestou Rabi Shimon: ‘Tudo o que construíram, não construíram senão para proveito próprio: construíram mercados para colocarem neles prostitutas, banhos públicos para neles darem prazer às suas carnes, pontes para por elas cobrarem impostos.’ Rabi Yehuda foi e narrou suas palavras ao reinado. Disseram (os romanos): ‘Yehuda que enalteceu será enaltecido, Yossei que calou-se será desterrado a Tsipori, Shimon que acusou será executado’. Foram Rabi Shimon e seu filho, se esconderam em uma caverna, ocorreu um milagre e nasceu uma árvore de alfarrobas e uma fonte de água (para seu sustento). Costumavam se despir e se enterrar até o pescoço em areia (para meditar). De dia se ocupavam na Torá, durante as rezas se vestiam e se cobriam com o xale de reza. Estiveram doze anos na caverna. Apareceu Elias (o profeta) à entrada da caverna, e lhes disse: ‘Quem avisará a Bar Yochai que o César morreu e se cancelou sua sentença?'”.

De acordo com a tradição, durante esses doze anos vivendo em condições extremas, em uma caverna em Peki’in, no norte da Galileia, o Rashbi escreveu – com inspiração nos seus profundos conhecimentos da Torá – o livro do Zohar (esplendor), que se manteve em segredo por centenas de anos, somente ao alcance de rabinos, e hoje é a base de todos os estudos cabalísticos. O Rashbi, conhecendo os mistérios da Cabalá, ensinou seus discípulos que esperava o dia da própria morte com alegria, porque finalmente poderia conhecer e experimentar tudo aquilo que havia aprendido e escrito no livro do Zohar. Por isso, solicitou que o dia de sua morte fosse recordado não com luto mas com muita luz e alegria.

Depois das eleições recentes, Israel vive dias difíceis em sua vida política e social. Junto a isso, a pandemia que se vive em Israel talvez faça que, neste 2021, as impressionantes festividades de celebração estipuladas pelo Rashbi não alcancem um Zohar (esplendor) como em anos anteriores, por causa das limitações de distanciamento. Chegamos a um Lag BaOmer israelense, em tempos de pandemia como aquela que durou 32 dias e que tanto afetou nosso povo. Chegamos a um Lag BaOmer com um novo governo, tão dividido quanto as ideias políticas que tiveram o Rashbi e Rabi Yehuda em seu momento, porém com um milagre da “fonte de água” e uma pequena luz de Zohar (esplendor), porque pela primeira vez a Knesset (o Parlamento) conta com um novo Chaver (membro) com ideias liberais: o rabino reformista Gilad Kariv. Rogo porque as ideias de mudança e da reforma não estejam mais “escondidas em uma caverna“, nem “enterradas até o pescoço em areia“. A nível pessoal, se passaram “doze anos na caverna” desde o ano de 2009 em que iniciei, animado, meu caminho até um rabinato reformista. Esse novo resplendor do dia 33 no ano de 2021 é muito significativo para mim e para o mundo reformista no mundo, e assim como pediu o Rashbi, espero com alegria que agora, em Lag BaOmer, possamos celebrar, ainda que com distanciamento, e ainda com Covid, uma nova luz de esplendor na vida política e social de Medinat Israel. Iechí Medinat Israel! Viva Medinat Israel!

Chag sameach!

Rabino David Laor
Congregación Bnei Israel
San José, Costa Rica

 

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