Entre os dias 3 e 6 do mês de maio deste ano, representantes das comunidades judaicas reformistas, presentes em mais de 50 países, se reuniram em Jerusalém para participarem do Connections, a conferência global da World Union for Progressive Judaism (WUPJ) – a organização que conecta as comunidades judaicas reformistas, progressistas, liberais e reconstrucionistas em todo o mundo. O evento contou com forte presença da região latinoamericana, com lideranças juvenis, rabínicas e comunitárias da Argentina, Brasil, Costa Rica e Guatemala.
Realizado há mais de 30 anos, o Connections deste ano é o primeiro encontro internacional presencial da WUPJ desde 2017. A conferência, além de proporcionar este grande encontro de regiões, celebrou os 75 anos da criação do Estado de Israel e os 50 anos da mudança da sede internacional da WUPJ para Beit Shmuel, em Jerusalém. O evento adotou o modelo “Unconference” – um espaço para aprendizado, colaboração e criatividade ponto a ponto, com foco em reunir os participantes do evento para trocar ideias e compartilhar uma visão em ação como judeus progressistas na atualidade.
O Rabino Sergio Bergman, membro da nossa região e novo Presidente da WUPJ, comunicou a nova visão de funcionamento e reformulação interna das relações entre a WUPJ e suas comunidades filiadas. A WUPJ, antes tida como um guarda-chuva de comunidades, se torna uma liga de cooperação entre filiadas, onde as diversas comunidades podem estar em um ambiente de colaboração, cooperação e criatividade. Além disso, a inclusão efetiva da juventude enquanto liderança atuante em nossas regiões.
O Rabino Guershon Kwasniewski, da SIBRA (Porto Alegre, Brasil) é o mais novo representante da UJR-AmLat dentro da WUPJ e vislumbra novas possibilidades e conexões com o mundo reformista para o fortalecimento de nossa região. “Fui convidado para fazer parte do novo Board da WUPJ como representante geográfico pela América Latina, desafio que me honra e assumo acompanhado por um grupo incrível de pessoas motivadas para servir o movimento. Sou grato à UJR e à SIBRA pelo apoio que tornou possível a minha participação.” diz o Rabino.
Na conferência, nossas lideranças puderam desenvolver conexões, novas ideias e projetos para o fortalecimento da experiência judaica progressista em nossa região. Movimentos juvenis vinculados à congregações reformistas na América Latina puderam consolidar sua relação com o Netzer, o movimento juvenil sionista da WUPJ e do Arzenu, o braço sionista do movimento reformista mundial. O Netzer conta com a presença de uma brasileira em sua liderança: Beatriz Rubinsztain, da Avanhandava – movimento juvenil vinculado à Congregação Israelita Paulista (São Paulo, Brasil).
Josh Nogueira, membro do Netzer Costa Rica fala sobre a importância deste momento para o fortalecimento do judaísmo em sua pequena comunidade. “Como judeu de uma pequena comunidade e participante ativo na formação de nosso Snif na Costa Rica, A Veidá do Netzer foi uma oportunidade incrível. Isso nos deu a oportunidade de aprender como fortalecer significativamente nossa comunidade e atender às suas necessidades específicas. Além disso, nos deu a oportunidade de nos conectar com outras pessoas com ideias similares sobre como podemos trocar soluções para problemas comuns, formando conexões valiosas. Por meio dessa experiência, criei lindas lembranças e me senti recarregado e energizado para aplicar tudo o que aprendi ao retornar. Como um dos três únicos Snifim latino-americanos, também foi enfatizada a importância de dar espaço às diversas realidades e experiências dentro do judaísmo progressista. Trabalhando juntos, pudemos contribuir na construção e configuração de importantes decisões tomadas na Veidá.”
Além do Netzer, foi trabalhado o fortalecimento interno do Tamar, uma plataforma global para envolver jovens judeus progressistas – estudantes universitários, jovens profissionais e jovens famílias, com idades entre 18 e 35 anos – procurando construir e fortalecer conexões e comunidades judaicas progressistas.
“Como as primeiras estrelas que aparecem ao entardecer, pouco a pouco as comunidades latino-americanas brilham umas com as outras; através de palestras, atividades e vivências, conectando-os entre si, formando, aos poucos, uma linda constelação. Essa é a importância do Connections e do Netzer/Tamar para comunidades como a minha. Dá-nos a possibilidade de nos envolvermos na noite estrelada e no mar sem fim de estrelas que é o povo judeu, dá-nos a oportunidade de ver a nossa própria capacidade de brilhar e as semelhanças que nos ligam uns aos outros.” diz Adrian Dardon, membro e jovem liderança da comunidade Adat Israel na Guatemala.
As lideranças rabínicas e estudantes de rabinato de todo o mundo puderam aprofundar estudos e trocar experiências na Kalá Rabínica, desenvolvendo novas habilidades e aperfeiçoando a execução de trabalhos essenciais no atual contexto do movimento reformista na América Latina.
“Foi um privilégio e uma oportunidade de estudar com rabinos e chazanim do mundo todo, aproveitada ao máximo. Ouvimos e interagimos com um jornalista de Haaretz e um ex-deputada da Knesset, para entender a difícil realidade israelense. Nos aprofundamos nos processos de Guiur – conversão – desde o religioso ao jurídico, para entender melhor os critérios aceitos pela Agência Judaica em relação às conversões que realizamos na diáspora. Compartilhamos refeições, num ambiente fraterno e de amizade. Criamos vínculos e conhecemos pessoas dos diferentes Batei Din – Tribunais Rabínicos – das diversas regiões onde a WUPJ está presente. Fixamos como objetivo trocar ideias e mancomunar esforços, unindo mais as regiões” conta o Rabino Guershon Kwasniewski.
A conferência também foi um momento de conexão das próprias lideranças com seu judaísmo. Em uma cerimônia de Shacharit no Kotel, liderada pelo Rabino Dr. Ruben Sternschein na quinta-feira, dia 04/05, os líderes comunitários Jorge Schwarz Crestani e Jerusa Cavalheiro puderam realizar suas cerimônias de B-mitsvá. Dois dias depois, receberam um Sefer Torá para sua congregação, a União Israelita do Vale da Região do Itajaí (UNIVRI, Balneário Camboriú). Jorge conta um pouco sobre o que significou ter tido essas experiências:
“Todos os momentos carregaram consigo um significado único, desde o Bar Mitsvá até a entrega da Torá, que chega na UNIVRI pela parceria com a Comunidade de Baltimore: uma comunidade antiga e tradicional, estendendo as mãos para uma comunidade jovem e emergente, graças ao empenho da WUPJ e da UJR-AmLat, que criaram esta ponte. Ledor Vador.
A convenção reafirmou minha percepção de que o judaísmo reformista é uma realidade viva e pulsante, é o futuro do judaísmo que se faz presente. Trago este Sefer Torá com amor e carinho para iluminar nossa pequena comunidade, a UNIVRI, União Israelita do Vale da Região do Itajaí. É uma alegria que compartilho com todos vocês e me emociono cada vez que relembro estes passos. Sejam todos bem-vindos para conhecer nossa comunidade e celebrar conosco a chegada do Sefer Torá.”
Além da UNIVRI, seis outras congregações ao redor do mundo receberam novos Sifrei Torá: duas na Austrália, duas na Europa, uma em Israel e uma no Brasil, a comunidade Neshamá, recém fundada e liderada pelo rabino David Leo Eisencraft, que também esteve presente no Connections.
Pela primeira vez a participação do Connections também foi parte integrante da programação do tradicional Seminário Beutel, dedicado a pessoas que demonstram potencial de liderança de longo prazo e que desejam receber ferramentas para melhorar as habilidades de liderança e práticas inovadoras para organizações comunitárias. Durante cinco dias, lideranças judaicas progressistas de todo o globo se uniram em Haifa para desenvolver projetos e colaborar com desenvolvimento compartilhado de suas ideias.
O seminário contou com a presença de cinco latinoamericanos: três argentinos e dois brasileiros. As argentinas Andrea Kaplan e Miriam Olchansky, da Fundación Judaica, contam sobre suas experiências:
“Cada participante apresentou um projeto que discutimos e aprofundamos em grupos e que continuaremos a desenvolver em cada país/comunidade. Adquirimos novos conhecimentos e ferramentas inovadoras para gerar impacto em nossos espaços de trabalho voluntário junto a um grupo humano com o qual falamos a mesma língua, embora não os mesmos idiomas. Começamos cada dia com uma Tefilá autogerida pelos diferentes participantes no qual rezamos, cantamos, dançamos, refletimos, meditamos e fizemos exercícios de Yoga. Conceitos como inovação, cooperação, generosidade, voluntariado, compromisso foram os eixos de cada dia.
Os coordenadores do Seminário, Rabino Shlomo Zagman e Rabina Stacey Blank nos acompanharam e nos apoiaram neste caminho para que juntos possamos fortalecer nosso papel comunitário. Agradecemos a eles e a todos que tornaram este caminho possível.”
A nossa crescente presença reflete a força que o Judaísmo Progressista vem ganhando dentro da comunidade judaica latinoamericana e a importância de estarmos cada vez mais engajados em fomentar a experiência judaica reformista em nossa região. Desejamos às lideranças uma boa jornada a partir dessa experiência e que cada vez mais pessoas possam se juntar no trabalho pelo fortalecimento de um judaísmo significativo, inclusivo e progressista em nosso continente.
