Uma nova obra literária de repercussão internacional chega às prateleiras brasileiras, trazendo reflexões da aclamada rabina francesa Delphine Horvilleur. Com tradução patrocinada pela União do Judaísmo Reformista na América Latina (UJR-AmLat), a editora Garamond anunciou a publicação da obra “Viver com nossos mortos“, que se define como um “pequeno tratado de consolo”, falando sobre o mistério da morte a partir da experiência da autora como rabina: nos momentos de sofrimento e desesperança, ela recorre a histórias tradicionais e aos textos sagrados do judaísmo para elaborar, junto aos enlutados, essa experiência dolorosa e inexplicável.
Às vésperas de completar 50 anos, Delphine Horvilleur é, essencialmente, uma comunicadora. Estudou medicina em Israel, trabalhou como jornalista e apresentadora de um telejornal antes de decidir mudar de vida e viajar a Nova Iorque para se preparar para o rabinato.
Como rabina, Delphine Horvilleur se defronta diariamente com o mistério da morte. Para acompanhar os moribundos e confortar seus próximos, ela procura transfigurar o inevitável, encontrando um sentido para aquele momento. Para isso, coloca-se ao lado das mulheres e dos homens que “necessitam de relatos nessas horas cruciais de sua vida”. Segundo ela, é necessário “saber contar o que já foi dito mil vezes, mas dando a quem que escuta aquela história pela primeira vez um acesso inédito para apropriar-se de sua própria história.” Conversar, confortar e refletir sobre a única certeza que temos na vida – a morte – não é tarefa fácil para qualquer ser humano. Mas é o fardo que a rabina Delphine tomou para si – e transformou neste livro.
Em “Viver com nossos mortos“, Delphine Horvilleur conta como ela se posiciona ao lado dos enlutados. Ela entrelaça a história (a experiência do rabinato), a reflexão (exegese talmúdica), a confissão (memórias pessoais) para compor um texto que é ao mesmo tempo comovente, burlesco e acadêmico. Relata, através de onze capítulos, a forma como damos sentido à morte através da fala. A rabina assume o papel de contadora de histórias para pensar e curar feridas íntimas e coletivas. O ensaio foi publicado em março de 2021. É recebido em um contexto particular: uma terceira onda do coronavírus Covid-19 afetou a França no início de 2021. A autora abordou a universalidade na experiência do luto e da morte, mas também com lentes de um judaísmo secularizado ao qual têm acesso todos aqueles que perderam alguém.
Delphine Horvilleur dá ao Judaísmo outra imagem que não a de uma religião severa, de auto-segregação, de difícil acesso. As portas do conhecimento judaico se abrem por meio de suas palavras. A história transcende em grande parte a questão de uma única religião. Ecoou lutos pessoais e também coletivos, como os de Elsa Cayat ou Simone Veil. A publicação no Brasil de “Viver com os nossos mortos” certamente será uma poderosa base de reflexão sobre os mistérios da vida e da morte – e uma fonte de consolo e elaboração anímica, não só para os enlutados, mas também para todos nós que algum dia enfrentaremos o processo de vivenciar o luto. Mas dessa vez, com lentes judaicas.